segunda-feira, 7 de maio de 2012

A última música.

A madrugada estava no seu auge, por volta das 2h50. Naquela hora mágica em que a noite está perfeita. Hora certa para Bela Lugosi´s Dead na pista de dança. E foi ao som do Bauhaus, devidamente gótico, perfeitamente depressivo e totalmente adequado para a ocasião, que eu dancei a última música oferecida pelo DJ Tom Azevedo. A última para mim, pois a festa ainda estava bastante viva quando saímos do bar, onde aconteceu a festa de despedida desse que eu considero o melhor DJ que o Recife já conheceu. Tom foi um dos grandes DJs da nossa saudadosa Misty, a boate mais lembrada e reverenciada dessa cidade. Lá pelos idos de 1992 e 1993 as noites de sábado já tinham programa certo para a minha turma. Era lá que dançávamos até o domingo chegar, sem pensar em mais nada, sem desejar mais nada, apenas dançar.

Naqueles dias, quando eu tinha meus 19 anos, a vida se resumia à faculdade, aos estágios e muita diversão. Dinheiro quase não tínhamos, íamos de ônibus e de carona para todo lugar, a qualquer hora. Loucuras de quem não está nem ai para os perigos dos nossos dias. Não tínhamos celulares, isso era coisa de gente rica. Nem havia internet fácil. Mas sabíamos de tudo de bom que ia acontecer na cidade, nas boates, nos inferninhos e festinhas privadas do nosso meio. Hoje o mundo digital e as redes sociais estão presentes todo o tempo em nossas vidas. As responsabilidades do trabalho, da casa, dos filhos, se fazem constantes em nossos pensamentos. Mas quando a música certa acontece, os anos parecem retroceder, por frações de segundo, e nos vemos novamente aos 19 anos, apenas com vontade de dançar e curtir a madrugada sem pensar no amanhã, sem nem lembrar que existe um amanhã.

E foi assim que ouvi e dancei aquela última música. Sem pensar, sem querer nada mais além do som, da pista, dos amigos. E, ao fim da madrugada, contrariando o que eu imaginava para aquele fim de noite, não ficou nenhum gosto amargo pela despedida do nosso DJ. Mas sim um sentimento bom de satisfação por poder lembrar de tudo o que já vivemos e tudo o que aproveitamos naqueles tempos, há quase 20 anos. O coração está em paz, pois os velhos amigos continuam mais amigos, os amores se fortalecem, bem como as novas amizades, e a vida evolui e se transforma sempre, como tem que ser. Pois imutável é uma palavra que não existe e saudade é um sentimento que a gente guarda com carinho e para sempre.


Lilu, Lu, Tom e Vevé: despedida de um ídolo


2 comentários:

  1. Tia Taci, chorasse né? Por favor, não seria você.
    Texto lindo, como sempre..
    Para quem a conhhece, sentimos toda a emoção junto com você.


    Beijos
    Sua filha dos outros.

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