quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um herói da vida real.

Hoje eu quero contar uma história verídica para vocês, meus fiéis leitores. Um causo que envolveu a minha filha e que aconteceu quando ela tinha cerca de dois anos. Era um dia qualquer. Naquela época meu marido viajava muito a trabalho. Acho, inclusive, que ele não estava na cidade na ocasião. Realmente, não lembro. Era um final de manhã e me liga minha mãe, muito calma, para contar uma inusitada história. Durante a narrativa detalhada, alternaram-se lágrimas e risadas, no conflito de emoções trazidas pelo medo do que poderia ter acontecido e pelo alívio de que tudo acabara bem.

Minha mãe me conta que a babá estava dando banho na pirralhada quando se deu conta da falta da toalha. Resolve ir buscá-la no quarto e deixa a pequena sozinha no chuveiro. Um descuido que parecia inofensivo e que causou uma série de transtornos naquela manhã. A baby resolveu que não ficaria esperando a babá quieta, saiu do chuveiro e fechou a porta do banheiro. Detalhe: fechou mesmo, passou o ferrolho (nessa época ainda tinha um ferrolho na porta deste banheiro. Depois daquele, eu mandei retirar). Claro que a filhota não conseguiu depois abrir a porta. Ficou nervosa, era muito pirralha e não entendia nada do que minha mãe e a babá falavam através da porta, tentando orientá-la a abrir o ferrolho. Ah! E o chuveiro estava ligado... só para informar. Ela poderia ter caído, se machucado seriamente. Presa e sem atendimento imediato!... Nem quero pensar de novo no perigo que passou...

Agora, imaginem a cena: duas senhoras gritando (minha mãe) e chorando (a babá) do lado de fora de um banheiro, enquanto uma menina de dois anos grita e chora do lado de dentro. Resultado: caos e muito barulho. Minha mãe teve mais presença de espírito e resolveu gritar pelo zelador do nosso prédio, um senhor de idade. Morávamos no primeiro andar e, como o prédio é antigo, a janela do banheiro é dessas grandes, espaçosas. Minha mãe teve a ideia de que o zelador poderia subir em uma escada e entrar pela janela... Bem, duas coisas a se resolverem aqui: uma escada e um zelador apto a subir nela. Pois não seria nosso bom velhinho "seu" Cinésio...

Mais uma vez iluminada, Mamy lembra que no prédio ao lado do nosso está sendo realizada uma obra. Ela resolve então: "Seu Cinésio, por favor, vá na obra aí do lado e veja se tem uma escada para alguém entrar no banheiro pela janela!" Enquanto isso, minha providencial mãe liga para a síndica do prédio em que, um ano antes, nós morávamos e que fica distante cerca de um quarteirão. "Conceição! Agatha está presa no banheiro! Pede para Sérgio vir aqui correndo!" Explico: Sérgio é o zelador do nosso antigo prédio. Conceição nem explica nada e manda Sérgio ir correndo. O danado sai desabalado pela rua, rezando para não passar nenhuma polícia. Pois do jeito que ele estava correndo pelo meio da rua, de chinelo, bermuda e cabelo arrepiado, só podia ser ladrão. Daqui que ele explicasse o que estava acontecendo, já estaria preso!

E chega Sérgio esbaforido lá em casa. Mamy e a babá já desesperadas. "Seu" Cinésio a postos com a escada e mais uns dois marmanjos da obra a carregá-la. "Onde a gente coloca a escada?" Em duas palavras Mamy explica a situação e lá vai Sérgio, magro graças a Deus, subindo a escada e entrando que nem gatuno no banheiro de dona Socorro. Rezando de novo para que nenhum vizinho esteja vendo e chamando os "homi", achando que é assalto. Ligeiro, ele desliga o chuveiro e abre a porta para uma Agatha pelada e roxa de tanto chorar sair correndo do banheiro para os braços das duas aliviadas senhoras. E Sérgio fica por ali, encabulado, morrendo de medo do cão Sebastian que latia feito um condenado, assutado com aquele cara que ia saindo do banheiro sem ter entrado! É... Sérgio tem medo de cachorro... até mesmo de Sebastian que era o cão mais doce do mundo.

Passado um pouco o susto, minha mãe e a babá agradecem demais a Sérgio, "seu" Cinésio, aos caras da obra que pegam a escada e voltam ao trabalho. A baby enrolada na toalha, começa a se acalmar. Já já ela nem lembra mais o que aconteceu. Tudo isso se deu em um intervalo de uma hora, mais ou menos. Uma eternidade para as duas senhoras e para a pequena presa no banheiro. E minha mãe me conta tudo ao telefone, ansiosa por dizer tudinho, para dividir comigo a preocupação e a solução. E Sérgio virou o herói de Agatha. O salvador de sorriso tímido que resgatou a baby e devolveu a tranquilidade para nossos corações. Até hoje, seis anos depois, ele ainda trabalha como zelador no nosso antigo prédio. Passo por lá todos os dias, no caminho para o trabalho e, sempre que esbarro nele, me lembro dessa história e agradeço, no íntimo, por tudo ter acabado bem.


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