Sociedade descartável
Vivemos a era do descartável e das novidades que passam desapercebidas. Não temos mais opção de manter a fidelidade aos produtos e aos serviços que nos são oferecidos ultimamente. Afinal, a cada nova compra ou procura daquilo que buscamos, somos surpreendidos pelo splash do “novo”. Desde a comumente utilizada “nova embalagem” até a mais ousada “nova fórmula”, somos confundidos a cada dia com tantas novidades que estas acabam por não fazer mais sentido. Perdem justamente o caráter do novo que acaba banalizado e sem graça. Caímos nas garras da superficialidade, da memória curta e do esquecimento precoce.
E tais fórmulas descartáveis criadas pelos marketeiros de plantão também inspiram nossas vidas pessoais. As amizades e os namoros são fugazes e passam rápido diante de nossas vidas corridas. Não mais nos serve a profundidade. Não temos mais tempo nem predisposição para isso. É o que eu chamo de sociedade descartável. Hoje você tem colegas de trabalho e amanhã eles não estão mais lá. O cargo foi preenchido por outra pessoa que você não conhece, mas não se preocupe. Não vai dar tempo de sentir saudades do antigo companheiro, afinal, daqui a uns quinze dias você já estará amigo do seu novo colega de trabalho.
Perdemos os amigos se eles não têm e-mail, MSN ou ICQ. Afinal como vamos nos comunicar com eles se não for de uma maneira moderna, rápida e impessoal? Já estão indignados com meus comentários? Ou estão achando algo familiar com as suas realidades? Se ainda não acreditam apenas observem os nick names no MSN. Já perceberam como nunca são os mesmos? Sempre mudando. Mas há quem irá lembrar que estas mudanças e novidades constantes são característica da vida moderna e atribulada que levamos.
Concordo. E é justamente isso que me entristece um pouco a alma. A vida apressada de todo dia nos tornou seres sem rosto, que falam com o mundo em segundo, através da tela do computador. Somos pessoas descartáveis que tantas vezes não passam de nomes em listas de contatos. Aí alguém vai dizer, “não temos como fugir disso”... E eu diria, “será que não mesmo”? Eu, pelo menos, tento me rebelar diante de algumas situações limite, para não enlouquecer de vez nessa vida louca vida. E vamos em frente que atrás vem gente. Que tal, para variar um pouco, marcar um encontro com aquele amigo que só conversa com você pelo MSN?
Taciana Antunes - dezembro de 2004
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